A sífilis congênita é uma doença altamente prevalente, de alta morbimortalidade, com graves complicações no feto e neonato. Em 2022, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima 700 000 casos de sífilis congênita e 390 000 eventos adversos para o feto e neonato, como abortamento, natimortalidade, prematuridade, baixo peso e morte neonatal. Além disso, acometimento ósseo e de sistema nervoso central podem levar a sequelas. No Brasil, em 2023, foram notificados 113,8 casos de gestantes diagnosticadas com sífilis por 1.000 nascidos e 9,9 casos de sífilis congênitas por 1.000 nascidos vivos. Observa-se aumento do número dos casos ao longo dos anos, o que pode ser atribuído a redução do uso de preservativos devido ao uso de PrEP (profilaxia pré-exposição) para prevenção da infecção pelo HIV. A sífilis adquirida, na gestante e a congênita é uma doença de notificação compulsória.

Assim, o diagnóstico e tratamento adequado das gestantes é essencial para prevenção da sífilis congênita.

–  Toda gestante deve realizar o exame na entrada do pré-natal, no último trimestre (a partir de 28 semanas) da gravidez e no momento do parto.

– O tratamento da sífilis na gestante deve ser iniciado com apenas um teste reagente (treponêmico ou não treponêmico independente da titulação), sem aguardar o resultado do segundo teste. A realização de exames de outra metodologia é necessária, mas não deve atrasar o tratamento.

No Quadro 1, encontram-se apresentados os métodos sorológicos e a  interpretação dos exames encontra-se no Quadro 2. A triagem pode ser realizada inicialmente com teste não treponêmico, seguida de teste treponêmico, ou pode ser realizada a triagem reversa, iniciada com teste treponemico por cromatografia (teste rápido) seguida de teste não trêponêmico.

Quadro 1 – Métodos sorológicos realizados para o diagnóstico de sífilis

TESTES IMUNOLÓGICOSNão treponêmicosVDRL RPR TRUST USRQuantificáveis (ex.: 1:2, 1:4, 1:8). Importantes para o diagnóstico e monitoramento da resposta ao tratamento.
TESTES IMUNOLÓGICOSTreponêmicosFTA-Abs ELISA/EQL/CMIA TPHA/TPPA/MHA TP Teste RápidoSão os primeiros a se tornarem reagentes. Na maioria das vezes, permanecem reagentes por toda a vida, mesmo após o tratamento. São importantes para o diagnóstico, mas não estão indicados para monitoramento da resposta ao tratamento.
Fonte: DCCI/SVS/MS.

Quadro 2 – Interpretação de testes sorológicos realizados para o diagnóstico de sífilis.

PRIMEIRO TESTE+Teste ComplementarInterpretaçãoConduta
Teste treponêmico: reagente    Teste não treponêmico: Reagente+     +Teste não treponêmico: Reagente   Teste treponêmico: reagenteDiagnóstico de sífilis 1-Classificação do estágio clínico a ser definida de acordo com o tempo de infecção e o histórico de tratamento. 2-Cicatriz sorológica: tratamento prévio documentado com queda da titulação em pelo menos duas diluições.Diagnóstico de sífilis: realizar tratamento, monitoramento com teste não treponêmico e notificação do caso. Quando considerado caso de cicatriz sorológica, reavaliar exposição e orientar.
Teste treponêmico: reagente   Teste não treponêmico: Reagente+   +Teste não treponêmico:  Não Reagente   Teste treponêmico:  não reagenteRealiza-se um terceiro teste treponêmico com metodologia diferente do primeiro: 1-Se reagente, diagnóstico de sífilis em fase latente. 2-Cicatriz sorológica: considerada se houver tratamento prévio documentado com queda da titulação em pelo menos duas diluições. 3-Se não reagente, considera-se resultado falso reagente para o primeiro teste, sendo excluído o diagnóstico de sífilis. 4-Se terceiro teste treponêmico não disponível, avaliar exposição de risco, sinais e sintomas e histórico de tratamento para definição de conduta.Diagnóstico de sífilis:  realizar tratamento, monitoramento com teste não treponêmico e avaliar critério de notificação do caso. Quando considerado caso de cicatriz sorológica, reavaliar exposição e orientar. Para os casos concluídos como ausência de sífilis, reavaliar exposição e orientar.
Teste não treponêmico: não reagente OU Teste treponêmico: não reagente Não realizar teste complementar se o primeiro teste for não reagente e se não houver suspeita clínica de sífilis primáriaAusência de infecção OU período de incubação (janela imunológica) de sífilis recente.Em caso de suspeita clínica e/ou epidemiológica, solicitar nova coleta de amostra em 30 dias. No entanto, a instituição do tratamento não deve ser retardada, caso o diagnóstico de sífilis seja provável pela avaliação clínica.
Adaptado de: DCCI/SVS/MS.

Deve-se lembrar que títulos baixos de VDRL estão presentes em infecção recente, estágios tardios ou em casos de pessoas adequadamente tratadas que não tenham atingido a negativação.

A conduta com o recém-nascido deve ser baseada no tratamento da gestante com sífilis , e deve ser considerado tratamento NÃO adequado quando:

  1. Qualquer medicamento que não seja a penicilina; ou
  2. Incompleto, mesmo tendo sido feito com penicilina; ou
  3. Ou inadequado para a fase clínica da doença; ou
  4. Início do tratamento no período inferior a 30 dias antes do parto; ou
  5. Ou ausência de documentação de tratamento anterior para sífilis
  6. Resposta adequada com queda de titulação de teste não treponêmico em pelo menos duas diluições em até três meses ou quatro diluições em até seis meses após término do tratamento.
  7. Avaliação do risco de reinfecção, no qual o tratamento das parcerias sexuais deve ser considerado.

Para crianças nascidas de mães adequadamente tratadas e deve-se realizar a avaliação clínica e o VDRL pareado. Se as crianças forem assintomáticas e o VDRL que o materno, pode-se realizar o seguimento clínico e repetição do teste não treponêmico, sendo liberada do seguimento após dois VDRL NR .

Para as crianças nascidas de mães inadequadamente tratadas ou tratadas adequadamente e sintomáticas deve-se realizar toda a propedêutica da criança considerando os órgãos alvo:

  1. Radiografia de ossos longos,
  2. Líquor rotina e VDRL
  3. Hemograma completo, função hepática, função renal e distúrbios hidroeletrolíticos,
  4. VDRL pareado com o materno.

O tratamento dessas crianças deve ser feito com penicilina cristalina (obrigatório quando há acometimento de sistema nervoso central) ou penicilina procaína. A penicilina benzatina dose única somente deve ser administrada no recém-nascido assintomático, com propedêutica completa normal e VDRL NR, nascido de mãe considerada não tratada ou com tratamento inadequado.  

Referências bibliográficas:

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST): Sífilis. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2023. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_clinico_hiv_sifilis_hepatites.pdf. Acesso em: 9 out. 2025.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Boletim Epidemiológico: Sífilis. Ano VIII, n. 1, 2024. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/boletins-epidemiologicos/2024/boletim_sifilis_2024_e.pdf/view. Acesso em: 9 out. 2025.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Sífilis congênita. [Rio de Janeiro]: SBP, [20–]. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/news/sifilis-congenita/. Acesso em: 9 out. 2025.

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Mother-to-child transmission of syphilis. [Genebra]: WHO, [20–]. Disponível em: https://www.who.int/teams/global-hiv-hepatitis-and-stis-programmes/stis/prevention/mother-to-child-transmission-of-syphilis. Acesso em: 9 out. 2025.

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