Crédito: Cigarro eletrônico – Crédito da foto- Ethan Parsa por Pixabay
O cigarro eletrônico, também conhecido como vape, é proibido no Brasil. No entanto, a comercialização ilegal pela internet não impede que jovens e adultos de todo o país tenham acesso irrestrito a esses dispositivos. Com um marketing agressivo que propaga a ideia de que o cigarro eletrônico é uma alternativa menos tóxica ao cigarro convencional, o vape está preocupando os profissionais de saúde que atendem crianças e adolescentes.
Saiba mais nesta entrevista com a presidente do DC de Pneumologia Pediátrica da SMP, Cláudia Andrade.
O cigarro eletrônico é menos tóxico que o convencional?
Essa argumentação não é válida, pois os dispositivos eletrônicos para fumar contêm várias substâncias nocivas, como partículas ultrafinas, componentes orgânicos voláteis, metais pesados e acetato de vitamina E. Essas substâncias parecem estar fortemente relacionadas às lesões pulmonares agudas e graves, doença pulmonar obstrutiva crônica e ao agravamento da asma. Além disso, explosões e queimaduras também têm sido relatadas. Seu uso deve ser fortemente desencorajado. Recentemente a ANVISA disponibilizou a ficha de notificação da doença pulmonar causada pelos dispositivos eletrônicos para fumar.
A venda de cigarro eletrônico está proibida no Brasil, mas o país enfrenta um lobby da indústria do tabaco para a volta dessa comercialização. Essa venda deve continuar proibida?
Sim. Devemos lutar para que a venda seja proibida, considerando todos os malefícios relacionados ao cigarro eletrônico. A resistência à comercialização deve fazer frente aos interesses comerciais da indústria do tabaco e de todo o marketing envolvido para seduzir os jovens.
Por que o uso desse produto por crianças e adolescentes vem levantando preocupações entre profissionais de saúde?
Sabemos que muitas vezes a experimentação do cigarro e das drogas lícitas e ilícitas inicia-se na adolescência. Nos EUA, o número de jovens e adolescentes que utilizam o cigarro eletrônico tem aumentado rapidamente. Alguns óbitos e várias internações com necessidade de terapia intensiva estão sendo relacionadas ao uso desses dispositivos, sendo a maioria das vítimas jovens saudáveis. Geralmente são pacientes previamente hígidos, que relatam uso do cigarro eletrônico alguns dias ou semanas antes, e que evoluem com dispneia progressiva, hipoxemia e infiltrado bilateral nos exames de imagem.
Como evitar o uso de cigarros eletrônicos por crianças e adolescentes?
É necessário conscientizar as pessoas, especialmente os adolescentes e jovens, sobre os riscos relacionados a esse hábito. Os pediatras têm papel fundamental, pois atuam na promoção de saúde e prevenção de doenças. Conhecer as graves consequências causadas pelos cigarros eletrônicos e compartilhar esse conhecimento com as famílias é essencial. É sempre bom lembrar que os pais são exemplos de hábitos saudáveis de vida e que devem evitar todas as formas de tabagismo.
Além disso, é necessário que os órgãos públicos competentes fiscalizem e punam os responsáveis pela venda ilegal do dispositivo no país. Por fim, as escolas e os diversos meios de divulgação de massa podem ser parceiros para informar à população. Informação de qualidade é fundamental.
Depoimento da pneumologista pediátrica, Laís Nicoliello, sobre o cigarro eletrônico