Dr. José Américo: uma vida dedicada à segurança de crianças e adolescentes



Dr. José Américo: uma vida dedicada à segurança de crianças e adolescentes

 

Os primeiros dias de janeiro foram marcados por uma notícia triste para a comunidade médica de Minas Gerais e, especialmente, para as Sociedades Mineira e Brasileira de Pediatria. Na segunda-feira, 8 de janeiro, faleceu o pediatra José Américo de Campos, presidente da SMP em 1982 e presidente do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da SBP em inúmeras gestões. O pediatra, que foi professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG e chefe do Serviço de Toxicologia do Hospital João XXIII, dedicou sua vida à segurança de crianças e adolescentes, especialmente ao estudo da Toxicologia Clínica, sendo pioneiro da área no estado. Atualmente, ocupava a cadeira nº 10 da Academia Mineira de Pediatria, cujo patrono é o médico Clovis Boechat de Menezes.

A importância de seu trabalho e seus ensinamentos não está somente nos inúmeros livros, manuais, pareceres e outras publicações que realizou no Brasil e no exterior, mas principalmente no coração e na memória de quem teve o prazer de conviver com ele. Portanto, ninguém melhor que os colegas e amigos para contar a história de José Américo de Campos.

 

“Acidentes e violência são evitáveis”

Slogan da campanha lançada em 1998 pelo departamento de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria, na gestão do Dr. José Américo de Campos

Dr. José Américo de Campos nasceu em Ponte Nova no dia 9 de setembro de 1937. Casou-se com Ana Maria, com quem teve três filhos: Rodrigo (médico), Júnea (publicitária) e Henrique (médico). Graduou-se em Medicina em 1963, pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e foi inscrito no Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRMMG) com o número 3789. Tornou-se especialista em pediatria.

Foi professor adjunto da Faculdade de Medicina da UFMG até 1997, quando se aposentou, e presidente da Sociedade Mineira de Pediatria em 1982. Atuou na Sociedade Brasileira de Pediatria como presidente do Departamento de Segurança nos períodos de 1982 a 1986 e de 1998 a 2004. Foi idealizador, fundador e organizador do Serviço de Toxicologia de Minas Gerais, no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte.

Entusiasmo, poder de decisão e liderança eram algumas de suas qualidades. Destacou-se e dedicou muito esforço na prevenção de acidentes e violência contra crianças e adolescentes. Dr. José Américo era incansável no trabalho de levar aos pediatras a mensagem de que “é nossa responsabilidade zelar pelo bem-estar de crianças e adolescentes e contribuir para a redução dos acidentes e violência que tanto os têm atingido”.

Coordenou e contribuiu com a elaboração de várias publicações dentre eles o Manual de Segurança da Criança e do Adolescente, publicado em pela SBP com o apoio da Nestlé, que representou a consolidação de um trabalho que a SBP vinha desenvolvendo desde 1998, quando do lançamento da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes e Violência na Infância e Adolescência com o objetivo de contribuir para a redução dos alarmantes índices de morbimortalidade por acidentes e violência entre crianças e adolescentes.

As suas publicações têm valor histórico e significativo para a Sociedade Mineira de Pediatria e Sociedade Brasileira de Pediatria contribuindo para o engajamento de toda a sociedade, em especial dos pediatras, nas ações de prevenção em todos os níveis de saúde.

Maria do Carmo Barros de Melo – presidente da SMP

Marislaine Lumena de Mendonça – presidente do Comitê de Segurança da SMP

 

O José Américo tem origens da mesma região de onde procedo e parentesco com o meu lado paterno. Profissional renomado e ser humano iluminado e especial. Sempre o admirei como pediatra e como pessoa: amigável, sereno, cordial, e acima de tudo amigo. Uma grande perda para a pediatria mineira e para a nossa Academia. José cumpriu bem sua missão e agora brilha em outra dimensão.

Paulo César Pinho Ribeiro – presidente da Academia Mineira de Pediatria

 

O professor Jose Américo Campos foi coordenador do Serviço de Toxicologia por muito anos e responsável pela consolidação do mesmo. Era professor de pediatria da UFMG e durante muito tempo foi o único médico e coordenador do serviço que operava exclusivamente com alunos de graduação de medicina da UFMG e da Ciências Médicas (bolsistas). Ele era o apoio dos alunos e possuía um conhecimento extenso sobre Toxicologia – bom lembrar que naquela época os computadores ainda não estavam disponíveis como hoje e não existia o Google. Ele era uma verdadeira “enciclopédia” de Toxicologia. Ligávamos (fui acadêmico do serviço), para ele a qualquer hora do dia para tirarmos dúvidas sobre um agente toxicante, um antídoto e éramos sempre bem recebidos e orientados.

Adebal Andrade Filho – coordenador da Unidade de Toxicologia do Hospital João XXIII

 

O José Américo foi um dos primeiros na área de segurança de crianças e adolescentes em Minas Gerais, especializou-se em toxicologia clínica na Universidade de São Paulo e foi fundador do Serviço de Toxicologia do Hospital João XXIII, onde mantinha fichários atualizados, na época não tinha internet, sobre intoxicação e acidentes. Publicou vários trabalhos sobre escorpionismo e ofidismo. Criou no Departamento de Pediatria da FM-UFMG o Grupo de Toxicologia Clínica, do qual faziam parte, além dele, eu (José Sabino de Oliveira) e o professor Divino Martins da Costa. Foi presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia e presidente do 2º Congresso Brasileiro de Toxicologia, além de ter exercido durante anos a clínica privada em pediatria. Era uma pessoa muito afetiva, dedicada e leal com seus amigos, colegas e alunos. O conheci em 1974, quando eu era residente no Hospital da Baleia e ele assistente do Serviço de Pediatria. Tínhamos um relacionamento muito próximo, era um amigo muito querido e vou sentir falta.

José Sabino de Oliveira – amigo e ex-presidente da SMP e da Academia Mineira de Pediatria

 

Em uma época em que não era a prática habitual os médicos fazerem especialização, o colega José Américo teve a audácia de especializar-se no Serviço de Pediatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo, na época dirigido pelo eminente Prof. Pedro de Alcântara e, posteriormente, por seu filho Eduardo Marcondes. O serviço contava com uma plêiade de excelentes professores e o José Américo por sua afetividade, facilidade de relacionamento e desejo de aprender se aproximou de vários deles, mas de modo especial do Prof. Jaime Murawski, tendo surgido desta relação o desejo de dedicar-se à toxicologia. Com profundos conhecimentos no assunto, consolidou o Serviço de Toxicologia do Hospital João XXIII como o maior serviço da área em Minas Gerais, servindo apoio a todos os outros serviços médicos e aos profissionais para o atendimento dos casos graves de intoxicação e vítimas de animais peçonhentos. Foi inicialmente um trabalho hercúleo de pesquisa e elaboração de fichas catalográficas, quando ainda não estavam disponíveis os conhecimentos de informática. Este centro foi também um celeiro de formação de especialistas dentre os quais os professores José Sabino de Oliveira e Divino Martins da Costa. Ainda jovem conheceu sua esposa Ana Maria, sua grande paixão à primeira vista, com quem teve três filhos. Foi um esposo e pai ardoroso, com permanente orgulho pelo brilhantismo de seus filhos. Com seu falecimento perde a classe pediátrica e a sociedade de Minas Gerais um excelente profissional.

José Guerra Lages – amigo e ex-presidente da Sociedade Mineira de Pediatria e da Associação Médica de Minas Gerais