Posicionamento da SMP acerca da profilaxia e tratamento da COVID-19



Andrea Lucchesi de Carvalho

Infectologista pediátrica – Hospital Infantil João Paulo II e CTR Orestes Diniz UFMG/PBH

Daniela Caldas Teixeira

Infectologista pediátrica – Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Infantil João Paulo II

Equipe de Infectologia – Rede Mater Dei de Saúde

Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais – Feluma

 

Diante do enorme volume de informações sobre o tratamento da COVID-19 circulando pelas mídias sociais, as quais, não raro, envolvem médicos que alegam ser especialistas, a Sociedade Mineira de Pediatria e o Departamento Científico de Infectologia da SMP sentem-se na obrigação de alertar seus associados, e a população em geral, para os seguintes pontos:

Os dados pediátricos publicados até o momento demonstram uma proporção menor de casos graves quando comparados com pacientes adultos. Dois grandes estudos, da China e dos Estados Unidos, têm os melhores dados pediátricos até o momento. Nos Estados Unidos, os pacientes pediátricos representaram apenas 1,7% do total de casos, apenas 20% deles necessitaram de hospitalização, 2% necessitaram de internação em unidade de terapia intensiva (UTI) e três morreram. Ambos os estudos observaram que pacientes com menos de um ano de idade apresentavam maior risco de hospitalização e quase 25% dos pacientes apresentava uma condição clínica subjacente. (Dong, Y. et al. Epidemiology of COVID-19 Among Children in China. PEDIATRICS 2020; CDC COVID-19 Response Team et al. Coronavirus Disease 2019 in Children — United States, February 12–April 2, 2020. MMWR Morb. Mortal)

Os pacientes com diagnóstico confirmado ou suspeito o manejo deve ser suportivo.

Atualmente, não há nenhum tratamento específico considerado eficaz para a COVID-19. Segundo recomendações de diversas organizações de saúde científicas, nacionais e internacionais, como OMS, OPAS, CDC, NIH, NHS, nenhum fármaco é aprovado para o tratamento ou prevenção da infecção por COVID-19, e seu uso deve ser limitado ao contexto de pesquisas clínicas devidamente registradas, pelos riscos de efeitos adversos potencialmente fatais e ausência de benefício clínico comprovado. (Quadro 1)

Estudo recente, ainda não publicado em revista científica após avaliação crítica por pares, indica que dexametasona, na dose de 6 mg ao dia por 10 dias, possa ser benéfica em casos graves, mas não em indivíduos com formas leves da doença. Entende-se como formas graves, todos os casos em que o paciente requeira algum tipo de suporte respiratório, tais como oxigenoterapia ou ventilação mecânica. A atuação da dexametasona visa modular a Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica. Nesse cenário específico, o uso de dexametasona se associou com aumento de aproximadamente 33% na sobrevida dos indivíduos tratados. (Randomised Evaluation of COVID-19 Therapy (RECOVERY). Low-cost dexamethasone reduces death by up to one third in hospitalised patients with severe respiratory complications of COVID-19. 2020. Available at: https:// www.recoverytrial.net/news/low-cost-dexamethasone-reduces-death-by-up-to-one-third-inhospitalised- -patients-with-severe-respiratory-complications-of-covid-19)

A medicina e a ciência são processos dinâmicos e, a qualquer instante, poderão surgir informações novas. Enquanto isso, a melhor forma de combater a pandemia é a manutenção do isolamento social e uso de máscaras.